Onde estão os valores da igreja primitiva?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010





Ao ler o relato bíblico a respeito da igreja primitiva, principalmente a estabelecida em Jerusalém, conforme Atos capítulo 2 versículos 42 a 47, verifico uma enorme diferença com igreja atual. A prática genuína da comunhão era efetiva entre os primeiros cristãos.
A história da igreja começou no pátio do templo em Jerusalém. Depois que Cristo foi elevado aos céus, seus discípulos e mais quinhentas pessoas voltaram para Jerusalém e começaram a se reunir no pátio do templo para esperar a promessa dada por Cristo a respeito do Espírito Santo (Atos 1:5).
Dez dias depois, na festa do dia de Pentecostes (50 dias após a páscoa), o Espírito Santo desceu sobre a igreja, naquele momento com 120 fiéis. Após o movimento promovido pela ação do Espírito Santo, Pedro tomou a palavra e fez um dos mais notórios sermões de todos os tempos. Foi a primeira mensagem evangelística genuína que levou cerca de três mil pessoas ao arrependimento e a confissão da nova fé cristã.
Imediatamente, Lucas o autor do livro, faz uma rápida narração do comportamento da igreja. Nele verificamos alguns valores essenciais:
(1) Poder do Espírito Santo (Atos 2:1-13)
(2) Pregação cristocêntrica (2:14-36)
(3) Conversão (2:37-40)
(4) Batismo (2:41)
(5) Comunhão (2:42-47)
a. Mantinham orientação doutrinária
b. Comiam e oravam juntos
c. Agiam com temor e respeito pela liderança
d. Produziam milagres e sinais
e. Estavam juntos e tinham as coisas em comum
f. Vendiam seus bens e repartiam entre si
g. Adoravam juntos no templo
h. Comiam o pão em casa
i. Mantinham a alegria e simplicidade
j. Caiam na graça do povo
(6) Conversão (2:48). (Se voltar ao passo 4, verifica-se um ciclo virtuoso de crescimento da igreja).
É tão rica prática da igreja primitiva que tem sido objeto de estudos, pregações, artigos, etc, ao longo desses dois mil anos. Aqui quero me concentrar numa comparação entre a prática religiosa atual, a respeito da visão da prosperidade e da posse de bens, em confronto com a liberalidade dos primeiros cristãos.
Primeiramente, a perspectiva da igreja primitiva era que Jesus voltaria em breve. Esse é um discurso firme nos escritos neo-testamentários. Embora Jesus tenha esclarecido aos seus discípulos que as decisões a respeito do futuro de Israel não lhes competiam (Atos 1:6), o desejo de que o Messias se revelasse novamente era grande e essa visão gerou um grande desprendimento na comunidade cristã de Jerusalém.
Por outro lado, não sabiam os judeus conversos que em breve eclodiria uma forte perseguição por parte da religião oficial. Isso quer dizer que se prática liberal da igreja não houvesse sido levada a efeito espontaneamente, os novos cristãos teriam que deixar suas propriedades e fugir ou ficar e enfrentar a fúria dos sacerdotes judeus, o que poderia significar a morte.
O certo é que o exemplo de liberalidade da igreja tornou-se um grande incômodo para a prática religiosa atual. Alguns cristãos não gostam de ler essa porção bíblica ou a lêem apresentando mil justificativas.
Como conciliar o discurso moderno da prosperidade e do apego aos bens com o desprendimento dos primeiros cristãos aos bens materiais? Não pode ser esquecido que muitas pessoas ricas seguiram Jesus e, por certo, consentiram com a transferência de suas riquezas para pessoas mais pobres, numa prática sem precedentes na história da humanidade.
Como aplicar o exemplo da igreja de Jerusalém aos nossos dias? Talvez alguém argumente que a narrativa bíblica não deve ser interpretada isoladamente, devendo ser julgada pela moral e pelos valores cristãos da Bíblia. Se fizermos isso, chegaremos à conclusão que a prática primitiva é aprovada pela doutrina paulina, de Pedro e de Tiago. Talvez alguém argumente que essa prática levou a igreja em Jerusalém à pobreza a ponto de ter sido necessária a ajuda de outras igrejas. Mas, a pobreza da igreja decorreu da perseguição dos líderes judeus; ela ocorreria de qualquer forma.
A verdade é que o relato de Atos é uma pedra no sapato dos pregadores da prosperidade. Daqueles que advogam a idéia de que Deus quer trocar fidelidade por dinheiro. Daqueles que criam práticas panteístas para trazer boa vida aos seus membros.
Não sou contra a prosperidade. Acredito que Deus abençoa o homem em todos os aspectos da vida, inclusive o financeiro. Não defendo que você deva obrigatoriamente vender seus bens e dividir o resultado com seus irmãos, até porque o contexto de Atos mostra que essa prática deveria ser espontânea (ver Atos 5). Mas, acredito que a pregação interesseira, a defesa da riqueza com um valor essencial para ser considerado abençoado, chegou a um limite insustentável. Fico pensando até quando Deus vai permitir isso.
Os cristãos primitivos poderiam ter se recusado a agir com liberalidade para com seus irmãos. Poderiam ter preferido a “lei de mercado”, na qual quem tem muito compra muito, quem tem pouco compra pouco e quem não tem nada... Ao contrário, preferiram compartilhar seus bens com os irmãos numa demonstração sem precedentes de comunhão e de desprendimento.
Que essa seja uma lição para nossa vida

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