Suprema Dependência

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009


Para Alysson Amorim. “Como um pai tem compaixão de seus filhos, assim o Senhor tem compaixão... pois ele sabe do que somos formados; lembra-se que somos pó” – Salmos 103 13-14.
Somos óbvios. Convivemos com poucas opções. Não alçamos vôo. A receita do ar que respiramos não tolera variações. Com um pouco de inatividade, atrofiamos os músculos dos pés e das mãos - e do coração. A receita do nosso sangue não pode desequilibrar. Quando a nossa temperatura sobe cinco graus, convulsionamos.
Somos limitados. O dicionário da nossa linguagem cotidiana não lota cem páginas. O espectro da nossa audição não alcança a categoria canina. Intuímos, mas não entendemos a nossa percepção. Intolerantes à dor, desesperamos. As altitudes nos enfraquecem, os vales nos oprimem, os oceanos nos perdem.
Somos efêmeros. Não sobrevivemos às carpas. Nossa pele enruga com pouco sol, os olhos se embaçam com quatro décadas e os pêlos caem sem razão. Sacrificamos o paladar em nome da saúde, mas não conseguimos driblar a decadência. Os primeiros anos da infância jazem no inconsciente, os últimos, da velhice, na demência.
Somos carentes. Precisamos de companhia. A impertinência do outro é melhor que a solidão. Procuramos os desertos e choramos de saudade. A irritação é insuficiente para nos afastar do amor. Frágeis, suplicamos por abraços. Um sentimento de orfandade nos acorda todas as manhãs, e saímos em busca de colo. No crepúsculo, pedimos por abrigo e canção de ninar.
Dependemos da Graça não por sermos maus, mas delicados.

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