Adaptação e sobrevivência

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

É possível adaptar-se a dores cruéis, sofrimentos atrozes, decepções frias; aprender a absorver baques, a encaliçar a alma, a envernizar sentimentos. Os humanos também se adequam para sobreviver. Na cruel tarefa de não desaparecerem na evolução, aprendem a acomodar-se aos ambientes hostis; assim, criam anticorpos existenciais, resistências espirituais, imunidades emocionais.

Locusta foi envenenadora profissional em Roma. Ela viveu durante o primeiro século depois de Cristo e ficou conhecida por ingerir pequenas doses de veneno todos os dias para adquirir defesa contra as toxinas que usava. Doses homeopáticas de veneno a protegiam, e ela, por sua vez podia matar sem ser atingida.

A alma humana cria revestimento e os olhos ganham frieza, as palavras, impassibilidade, os atos, automatismo. Entretanto, dessensibilizados, mulheres e homens acabam conspirando contra si mesmos. Seguem como bois no corredor do matadouro, aceitam marchar cabisbaixos rumo ao corte trágico. Anestesiados, consentem com o destino e se entregam à providência.

A noite mal dormida, o almoço requentado, o descaso da burocracia, tudo é absorvido pacificamente. Sem contar com a bestificação da televisiva e a superficialização jornalística que contribuem com a demência generalizada. Pensar passa a ser privilégio e redarguir, virtude rara.

Reina o espírito de manada para que mentes domesticadas repitam clichês. Carreiristas inescrupulosos se aproveitam dos simples. Futriqueiros disseminam boatos. Ímpios manobram detrás dos panos. Banditismo se mistura à benignidade.

A vida só continua porque os processos de assimilação da espécie humana são espantosos. Infelizmente.

Soli Deo Gloria
Ricardo Gondim

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