Penitencia

terça-feira, 2 de junho de 2009

Sinto-me companheiro de personagens bem desgostosos da Bíblia. Pensei em mencionar os pessimistas não religiosos, mas isso daria mais celeuma para cima de mim. Como estou mal com um monte de coisa ao meu redor, isso não seria bom. Ficarei apenas com os atormentados bíblicos.

Sou irmão de Asafe, aquele bardo que quase se desviou quando mirou a prosperidade dos ímpios (Sl 73). Mas, ao contrário dele, não os invejo, fico só com uma pulga atrás da orelha. Por que a sorte premia gente infame? Os íntegros se desgastam para ganhar milímetros na prática do bem. Revolto-me com os escroques que alcançam notoriedade enrolando os incautos com lorota vulgar. Meu cansaço já virou fastio e meu incômodo, letargia.

Vejo-me parceiro de lamentações com Jeremias. Semelhante a ele, tenho vontade de perguntar: “Tu, Senhor, reinas para sempre; teu trono permanece de geração em geração. Por que motivo, então, te esquecerias de nós? Por que haverias de desamparar-nos por tanto tempo”? (Lm 5.19.20).

Amanheço atraído por Oséias. Divido sua indignação contra os sacerdotes que mercadejam esperança. Da medula dos ossos vem a minha indignação. Não partilho da euforia dos evangélicos quando celebram vertiginoso crescimento numérico. Vale a pena? Esse crescimento contribui pouco com o arrefecimento do inferno existencial, e produz mais neurose religiosa que vida que valha à pena. “Quanto mais aumentaram os sacerdotes, mais eles pecaram contra mim; trocaram a Glória deles por algo vergonhoso. Eles se alimentam dos pecados do meu povo...” (4.7- 8).

Com Miquéias, sou dramático. Talvez no desespero de exorcizar o meu torpor com a mediocridade que reina, tenho vontade de escrever: “...chorarei e lamentarei; andarei descalço e nu. Uivarei como chacal e gemerei como um filhote de coruja. Pois a ferida de Samaria (do Brasil?) é incurável e chegou a Judá (a igreja?)” (1:8-9).

Não estranho quando Jesus mostrou-se contundente. Identifico-me com sua exasperação. Também quero dizer, depois de ensinar e constatar que não fui ouvido por mera antipatia: “Ó tardos e néscios de coração para crer...” (Lc 24.25). Quando perceber o encurtamento das pessoas, vou dar-me a liberdade de afirmar: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês”? (Mt 17.17). Não me culpo por denunciar que as mesas dos cambistas são esquerosas. Meu Senhor achou insuportável ver a casa de Deus apequenada e transformada em covil de ladrões – “O zelo da tua casa me devorará” (Jo 2.17).

Quando estico um dedo na direção dos outros, reconheço que alguns apontam para mim. Ando azedo comigo mesmo. “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará deste corpo de morte?” – (Rm 7.24). Constrangido pelo amor de Deus, abracei o ministério da Palavra. Admito, não alcancei a perfeição. Eu sou o principal pecador (1Tm 1.15); e cônscio de que serei julgado com maior rigor (Tg 3.1).

De espírito quebrantado e contrito, resta-me repetir a oração do rito bizantino: Kyrie eleison; Christe eleison; Kyrie eleison - "Senhor, tende piedade (de nós); Cristo, tende piedade (de nós); Senhor, tende piedade (de nós).

Soli Deo Gloria

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