Diante
de minhas críticas muitas pessoas sempre me perguntam qual seria a
minha proposta de cristianismo, já que tanto condeno e critico as formas
de culto estabelecidas na atualidade. Há dias venho refletindo sobre
esta pergunta, e em minha mente só conseguia meditar em um texto da
bíblia que penso refletir perfeitamente a minha sensação:
1 Samuel 8: 4 -10
Então
todos os líderes de Israel se reuniram e foram falar com Samuel, em
Ramá. Eles disseram: - Olhe! Você já está ficando velho, e os seus
filhos não seguem o seu exemplo. Por isso, queremos que nos arranje um
rei para nos governar, como acontece nos outros países. Samuel não
gostou do pedido deles. Então orou a Deus, o SENHOR, e ele respondeu
assim:
-Atenda
ao pedido do povo. Não é só você que eles rejeitaram; eles rejeitaram a
mim como Rei. Desde que eu os trouxe do Egito, eles sempre me têm
abandonado e têm adorado outros deuses. Agora estão fazendo com você o
que sempre fizeram comigo. Portanto, atenda ao pedido deles. Mas
avise essa gente, explicando com toda a clareza como o rei vai
tratá-los. Então Samuel explicou ao povo tudo o que o SENHOR lhe tinha
dito.
Sempre
que me deparo com perguntas como estas, eu me indago por que é tão
difícil para as pessoas aceitarem que a espiritualidade sadia não é
regida por dogmas e liturgias? Porque não conseguimos aceitar que Deus
quer ser o verdadeiro Rei em nossas vidas, algo pessoal e íntimo,
participativo e sem intermediários ou facilitadores para representá-lo.
Lamentavelmente
eu vejo uma triste realidade que se revela em perguntas como estas.
Elas demonstram que as pessoas foram condicionadas, podendo-se dizer
até, “viciadas’ pelos traficantes da fé. Pessoas estas que reduziram a
maravilhosa mensagem de amor e reconciliação, tornando-a em uma terrível
droga, a religião. Por mais que eles percebam que a forma como concebem
os ensinamentos de Cristo estejam equivocadas, precisam desta droga,
enfim, não conseguem sobreviver sem uma dose de penitências dominicais.
A
religiosidade é permeada de culpa, acusação, pecado, criando um ciclo
tão voraz que prende as pessoas em rotinas constantes de pecado e
penitências. O perdão se torna algo exclusivo do templo, ou seja, por
freqüentá-lo, manifesto pelo intermédio da oração de um Pastor, Padre ou
xamã. Estes percebendo o vício de tais flagelados os alimentam com
novas doses de religião, fato tal que permite aos traficantes possuir um
poder sobre a vida destes viciados, conduzindo-os a um desespero tão
grande por perdão, que se tornam pessoas capazes de dar tudo por apenas
mais uma dose. Não digo que a consciência de todos estes traficantes
seja sofismada e cruel, pois grande parte deles também é vitima e
viciada, então é fato que só administram os meios pelo qual também foram
vitimados.
Realmente
são tempos ruins estes em que vivemos, pois quando se fala em um
evangelho que torna livre a consciência humana é tido por heresia, e
quando pregamos uma mensagem degradativa e aprisionadora chamamos de
doutrina. Lamentavelmente chegamos há um tempo que as distorções são tão
explicitas que chamamos este novo evangelho da religião de velho e
apostólico e ao velho e simples evangelho atribuem o caráter de “novo” e
libertino. Libertino por falar de amor, aceitação, igualdade. Libertino
por criticar o dogmatismo, e pregar o perdão e a reconciliação,
libertino por dizer que a graça esta acima do pecado, e que o inferno
não compete a nós.
Eu
me considero um viciado em recuperação, pois de tudo o que a religião e
seus dogmas proporcionam experimentei a fundo. Vi-me por anos preso em
rotinas de pecado e perdão em um cativeiro dominical, nunca percebendo
realmente Deus sem intermediários. Isso até o dia que influenciado pelos
traficantes da Fé, tentei eu também traficar esta droga de evangelho.
Mas pela graça de Deus, dei espaço em minha consciência à voz dos céus
que me conquistou, e com um tapa de amor eu fui resgatado deste meio,
para um caminho de liberdade. A modelo do texto de Samuel, os homens
sempre vão querer os intermediários, aqueles que reinem e usufruam de
seus bens e inocência. Isso porque são viciados, medrosos, fugitivos da
vida, verdadeiros covardes que temem enfrentar as problemáticas da
existência sem o conselho de um guru. Não querem um Deus reinando sobre
eles, eles querem um rei, Um rei pastor, um rei padre, alguém que de a
eles um governo humano organizado, a modelo das estruturas humanas.
Por
coisas assim, falar em espiritualidade que nos rege por consciência
para estes parece utopia e heresia, pois não conseguem encarar que Deus
não precisa de homens para ser Deus. Um Deus que pisa em suas regras, um
Deus que não age e nem vê como os homens, um Deus que julga pelo
coração. Este Deus para eles é pouco dogmático, muito simples e
descomplicado. Este Deus eles não querem.
Chamam-nos
de libertinos por defendermos o direito ao amor divino para todo homem,
mas se fazem de deuses condenando o mundo. Realizam verdadeiros jihads
contra os que julgam infiéis, mas não temem se apropriar dos bens
daqueles a que chamam de fiéis. Uma fidelidade mentirosa que rouba a
vida, a família, atribuindo pecado ao sagrado e santidade ao profano.
Estaria eu errado por criticar e negar-me a usar desta droga?
0 comments
Postar um comentário