Irrita-me
profundamente esta nova onda calvinista que nestes dias anda
achocalhando as igrejas protestantes. Alguns representantes no Brasil
têm de certa forma incentivado esta nova onda de radicalismo
predestinatório, que vem oprimindo de forma desonesta e “bibliojenta” as
pessoas. De forma irresponsável eles têm ressuscitado as antigas
baboseiras doutrinarias do “Juanito” em um ímpeto sagrado saem por
blogs, sites, meios de discussão teológica com intuito de moralizar
estes ambientes. Quanto à sociedade, reafirmam a velha dicotomia de
sagrado e profano, e a modelo de Calvino querem higienizar o mundo dos
nojentos pecadores. Então como forma de mostrar a eficiência da
doutrina calvinista, resolvi cumular alguns fatos que podem elucidar a
eficiência da reforma promovida por João Calvino.
Em
uma entrevista para uma revista, Isabelle Graesllé diretora do museu da
reforma descreve Calvino como um homem de gênio muito forte, metódico,
temperamental e calculista. Levantava cedo pela manhã já oprimindo os
seus serviçais, sendo que fazia a sua secretária estar às cinco horas da
manhã pronta para servi-lo em suas necessidades. Ele era um homem
constantemente atormentado por dores de cabeça e enfermidades
estomacais, sendo que aos trinta anos percebeu que precisaria de uma
enfermeira, e encomenda uma esposa ao seu amigo Guillaume Farel
descrevendo as seguintes características de perfil:
“Ela deve ser recatada, sensível e econômica, paciente e disposta a cuidar de minha saúde.” T.H.L Parker John Calvin Byografy
Calvino
era “workaholic”, muito religioso, e possuía verdadeira ojeriza aos
pecadores. Não admitia ser amigo de pessoas que não compartissem de suas
convicções religiosas, ofendia-se de forma profunda se alguém
discordasse ou o criticasse . Com freqüência perdia a cabeça discutindo
teologia com seus adversários, o seu jeito irado se contrapunha com sua
saúde fragilizada. Sua intolerância era tão generalizada que para
demonstrar, podemos citar o relato do seu impasse sobre a trindade com o
seu opositor o médico Miguel Servet. Só para citar, inspirado por um
texto bíblico Miguel Servet foi precursor na descoberta da circulação
sangüínea. Foi o primeiro a descrever a circulação pulmonar com
exatidão. Servet era um Espírito inquieto, aguerrido, devotado em
questões transcendentais de natureza religiosa e filosófica. Seguramente
ele era uma peça importante em meio às disputas religiosas resultantes
da Reforma.
Durante
toda a sua vida, Servet escreveu sobre questões religiosas e dedicou-se
à exegese da Bíblia. Um dos temas prediletos de Servet era sobre
retorno da igreja a um cristianismo "puro", tal como fora ensinado por
Jesus. Um dos dogmas da Igreja que ele contestou, e que foi o motivo de
sua desgraça foi o da Santíssima Trindade. Era notável que as suas
idéias desagradaram tanto aos católicos como aos protestantes. Acusado
de heresia, Servet foi preso e julgado em Lyon, na França. Conseguiu
evadir-se da prisão e quando se dirigia para a Itália, através da Suíça,
foi vitima de uma arapuca armada por Calvino e preso em Genebra. Antes
de Servet ser capturado, Calvino escreveu a seu amigo Farel, em 13 de
fevereiro de 1546 dizendo:
“Se Servet vier à Genebra, eu nunca o deixarei escapar vivo se a minha autoridade tiver peso”
Durante o julgamento de Servet, Calvino escreveu:
“Eu espero que o veredicto seja pena de morte.”
Como
prometido, Servet foi julgado e condenado a morrer na fogueira por
decisão de um tribunal eclesiástico sob direção do próprio Calvino. A
sentença foi cumprida em Champel, nas proximidades de Genebra, no dia 27
de outubro de 1553. Puseram na cabeça de Servet uma coroa de juncos
impregnada de enxofre, e o queimaram vivo em fogo lento com requintes de
sadismo e crueldade. Reza a lenda que enquanto servet morria, João
Calvino sorria de uma janela em um sobrado vendo o médico queimar vivo
em lenhas verdes, fato este que durou por cerca de 30 minutos. Tudo
isso por haver discordado do ensino da trindade. Segue o relato da morte
de Servet:
“Farel
caminhou ao lado do homem condenado e manteve uma constante enxurrada
de palavras, em completa insensibilidade ao que Servet pudesse estar
sentindo. Tudo que ele tinha em mente era extorquir do prisioneiro um
reconhecimento de seu erro teológico – um chocante exemplo de uma
desalmada cura de almas. Depois de alguns minutos disso, Servet cessou
de responder e orou silenciosamente para si mesmo. Quando eles chegaram
ao local de execução, Farel anunciou a multidão que assistia: ‘Aqui
você vê o poder que Satanás possui quando ele tem um homem em seu poder.
Este homem é um distinto estudioso e ele no entanto acreditava que
estava agindo corretamente. Mas agora Satanás o possui completamente,
como ele poderia possuir você, cairia então você em suas armadilhas.
Quando
o executor começou o seu trabalho, Servet sussurrou com voz trêmula:
‘Oh Deus, Oh Deus!’ O opositor Farel vociferou para ele : ‘Você não tem
nada mais a dizer?’ Neste momento Servet respondeu para ele: ‘O que
mais eu posso fazer, mas falar com Deus!’ Logo após isso, ele foi
suspenso até a fogueira e amarrado as estacas. Uma coroa com enxofre
foi colocada em sua cabeça. Quando as fagulhas foram acesas, um
lancinante grito de horror brotou dele. ‘Misericórdia, misericórdia!’
ele clamou. Por mais de meia hora a horrível agonia continuou, porque a
fogueira havia sido feita com madeira semiverde, que queima lentamente.
‘Jesus, Filho do eterno Deus, tenha misericórdia de mim,’ o homem
atormentado clamava do meio das chamas ...” The Heretics (Os Hereges) p.327
A
morte de Servet não teve somente como motivo uma vingança pessoal de
Calvino, mas também implicações políticas. A oposição ao governo de
Calvino usava-se da imagem de Servet para afrontar a sua autoridade em
genebra, esta que se encontrava em decadência. Em suma, matar Servet era
mais do que necessário naquele momento, pois ele precisava da morte do
médico para afirmar o seu poder em Genebra. Calvino era tão louco que
quando foi dar uma explicação sobre o assassinato de pessoas inocentes
que eram consideradas hereges, ele justificou:
“Todo
aquele que sustentar ser injustiça punir os hereges e blasfemadores
torna-se cúmplice do crime deles... Não é questão de autoridade do
homem; é Deus que fala”.
Ainda
podemos citar outro opositor de Calvino, Jerome Bolsec que foi um
opositor direto. Ele publicamente desafiou os ensinamentos de Calvino
sobre predestinação, juntamente com apoio de muitos outros, achavam ser
moralmente repugnante. Como resultado ele foi banido da cidade em
1551, mas em 1577 publicou uma biografia de Calvino. Segue um trecho
deste relato:
"...
Ele foi irremediavelmente tedioso e mal-intencionado, sedento de sangue
e frustrado. Tratou suas próprias palavras como se fossem a Palavra de
Deus, e se permitiu ser adorado como Deus. Além de freqüentemente ser
vítima de suas tendências homossexuais, ele tinha o hábito de ceder-se
sexualmente com qualquer mulher a uma curta distância.”
De
acordo com Bolsec, Calvino teve de renunciar aos seus benefícios
ministeriais em Noyon por conta da exposição pública de suas atividades
homossexuais. Bolsec teve como base de seu trabalho biográfico uma
série de entrevistas que realizou com "indivíduos de confiança"
(personnes digne de foy).
Calvino
como todo bom fanático endossava que Deus o ordenava a assassinar os
hereges, ele se colocava na posição de mão divina para punir pecadores.
Nos seus primeiros anos de governo em Genebra, João Calcino matou 58
pessoas por discordarem dele; 4000 padres; 1200 freiras foram estupradas
e mortas, 200 Igrejas foram saqueadas e seus valiosos vasos roubados e
os mesmos serviam para transportar o dinheiro que servia de pagamento
para o exército mercenário de Calvino. Os Calvinistas em perseguição aos
católicos franceses cometiam atos de barbárie como pegar as vísceras de
pessoas que eles matavam e enchiam de capim e davam para os seus
cavalos.
Bem,
diante de tantas evidências pode-se dizer ser um orgulho ser um
seguidor de Calvino? Ou que um homem de tamanha maldade possa ter sido
inspirado por Deus? É evidente que a história do calvinismo é permeada
por corrupção, sangue, entre outras aberrações que foram citadas nas
fontes acima. Antes de qualquer cristão se cognominar calvinista deveria
analisar historicamente as fontes que permeiam esta construção
teológica da predestinação. Sabendo que nela estão implícitos
precedentes que abrem este vácuo para o fanatismo e o radicalismo
evangélico. Na questão de aberração os adeptos do calvinismo estão
seguindo as doutrinas com perfeição, usando-se de argumentos desprovidos
consciência, fazendo juz ao o seu herói e mestre. É notável que em meio
a esta ressurreição calvinista, velhos sonhos a molde de Calvino têm
ressurgido. Sobre este assunto, creio que o apostolo Tiago faz uma
perguntinha que vem muito a calhar e que será essencial para terminar
nossa reflexão:
“Porventura a fonte deita da mesma abertura água doce e água amargosa?” (Tg 3.11).
Leandro Barbosa
Bibliografia:
REZENDE Joffre M. O trágico destino de miguel servet. Disponível em: http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/Servet.htm
WALSH, William Thomas. A perseguição dos católicos franceses por calvinistas. Disponível em: http://www.veritatis.com.br/article/2803
BAINTON, Roland H. Hunted Heretic (The Beacon Press, 1953), p. 207.
MCGRATH, Alister E. (1990), A Vida de João Calvino, Oxford: Basil Blackwell, pp 16-17
João Calvino, Actes du procès Intenté par Calvin et les autres Ministres de Genève à Jérome Bolsec de Paris (1551), Corpus Reformatorum ( Brunsvigae , 1870), vol. 36, Opera, vol. 8, 141-248
NIGG, Walter The Heretics (Alfred A. Knopf, Inc., 1962), p. 328
FULTON, John F. Michael Servetus Humanist and Martyr (Herbert Reichner, 1953), p. 35
WALKER, John Calvin (New York, 1906), 116-119, 315-320
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